December 20, 2012

O Jardim - H. P. Lovecraft


O Jardim

Existe um jardim antigo com o qual às vezes sonho,
sobre o qual o sol de maio despeja um brilho tristonho;
onde as flores mais vistosas perderam a cor, secaram;
e as paredes e as colunas são idéias que passaram.

Crescem heras de entre as fendas, e o matagal desgrenhado 
sufoca a pérgula, e o tanque foi pelo musgo tomado.
Pelas áleas silenciosas vê-se a erva esparsa brotar,
e o odor mofado de coisas mortas se derrama no ar.

Não há nenhuma criatura viva no espaço ao redor, 
e entre a quietude das cercas não se ouve qualquer rumor.
E, enquanto ando, observo, escuto, uma ânsia às vezes me invade
de saber quando é que vi tal jardim numa outra idade.

A visão de dias idos em mim ressurge e demora, 
quando olho as cenas cinzentas que sinto ter visto outrora.
E, de tristeza, estremeço ao ver que essas flores são
minhas esperanças murchas - e o jardim, meu coração.

H. P. Lovecraft

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December 1, 2012

Sonhos...

"Há quem diga que todas as noites são de sonhos. 
Mas há também quem diga que nem todas, só as de verão. 
Mas no fundo isso não tem muita importância. 
O que interessa mesmo não são as noites em si, são os sonhos. 
Sonhos que o homem sonha sempre. 
Em todos os lugares, em todas as épocas do ano, 
dormindo ou acordado."

- William Shakespeare, em Sonhos de uma noite de Verão

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November 20, 2012

Saudade - Augusto dos Anjos


Saudade


Hoje que a mágoa me apunhala o seio,
E o coração me rasga atroz, imensa,
Eu a bendigo da descrença em meio,
Porque eu hoje só vivo da descrença.

À noite quando em funda soledade 
Minh'alma se recolhe tristemente, 
Pra iluminar-me a alma descontente, 
Se acende o círio triste da Saudade.

E assim afeito às mágoas e ao tormento,
E à dor e ao sofrimento eterno afeito,
Para dar vida à dor e ao sofrimento,

Da saudade na campa enegrecida 
Guardo a lembrança que me sangra o peito, 
Mas que no entanto me alimenta a vida.


Augusto dos Anjos

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October 22, 2012

Werewolf

Werewolf 

Em um sonho, eu era um lobisomem

Eu percorria sem rumo os caminhos escurecidos da floresta, 
em meio à escuridão da noite, 
e minha fome voraz de lobo me consumia cada vez mais.
Então iniciei a caça à minha presa.
 Somente a luz do luar me permitiu avistá-la,
 mas ela logo desapareceu entre as árvores enegrecidas pela noite. 
Comecei então a persegui-la. 

Quando a alcancei pude ouvir sua frágil respiração, 
e seu coração pulsando rapidamente em meio ao desespero.
 Era uma jovem garota, pálida sob a luz do luar, 
e consumida pelo medo da terrível criatura que avistara. 
O que fazia ela, sozinha naquela distante floresta, 
tão afastada dos outros humanos? 

Naquele instante, um silêncio mortal 
pairou em meio à escuridão. 
Então a pequena garota observou-me longamente, 
demonstrando um estranho fascínio pelo seu faminto caçador. 
O medo logo havia desaparecido de seu olhar, 
e ela caminhou em minha direção, destemida. 
Como se não temesse a morte que ali a confrontava, 
e que nunca esteve tão próxima de seu encontro.

Ou talvez ela desejasse o frio abraço da Morte. 

E não havia mais como fugir, 
pois lá estava eu, a mais temida criatura, 
a um passo de tirar sua vida. 
Mesmo que ela não o desejasse, seria o seu destino. 
Seria esse o seu fim? 

E foi naquela noite,
 que uma jovem que vagava só no mais profundo da floresta, 
satisfez minha fome voraz de Lobo,
 tornando-se minha mais nova presa. 
Mas foi então que tornei-me amaldiçoado pela noite.
 Uma criatura que, por não poupar a vida de uma frágil humana,
 estava condenada a pertencer para sempre às sombras.
 A permanecer lá, encarcerado sob a luz do luar, 
aprisionado em sua própria maldição. 
E a vida, a partir de hoje, 
seria como uma eterna noite de Lua Cheia. 

Mas este foi apenas um sonho que tive.

by Vane



September 22, 2012

Um Sonho Dentro De Um Sonho - Edgar Allan Poe

Hoje vou postar aqui outro poema de Edgar Allan Poe que eu gosto muito: "Um sonho dentro de um sonho". A tradução é de Leonardo Dias.



Um Sonho Dentro De Um Sonho


Tome este beijo sobre a têmpora
e, partindo de ti agora,
muito a dizer nesta franca hora 
Você não está errado, quem diria
que meus sonhos têm sido o dia;
Ainda se a esperança fosse um açoite
em um dia, ou numa noite,
numa visão, ou em ninguém
É isso então o que está aquém?
Tudo o que vejo, tudo o que suponho
É só um sonho dentro de um sonho.

As ondas quebram e fico ao meio
de uma praia atormentada
e eu seguro em minhas mãos
uns grãos de areia dourada -
Quão poucos! E como se vão
Pelos meus dedos para o nada,
enquanto eu choro, enquanto eu choro!
Ó Deus! Eu Vos imploro:
Não posso mantê-los em minha teia?
Ó Deus! Posso eu proteger
das duras ondas um grão de areia?
Será que tudo o que vejo e suponho
É só um sonho dentro de um sonho?

Edgar Allan Poe

Imagem de hands, black, and stars

September 16, 2012

Música: Karen Elson

Hoje apresentarei aqui outra cantora que recentemente surgiu no cenário musical: Karen Elson.
Resolvi usar a tag 'música' no meu blog para divulgar aqui cantores(as) ou bandas que ainda são pouco conhecidos (as).^^"


 Karen Elson é uma cantora inglesa, conhecida também por sua carreira de modelo; lançou seu álbum de estréia, The Ghost Who Walks, em 2010, e os gêneros que ela canta são Indie Rock / Folk Gótico.
 Eu a conheci pela música The Truth Is In The Dirt (e é sua melhor música, na minha opinião), pela qual já dá para se ter uma idéia do estilo da cantora.
Em The Ghost Who Walks (disco que foi produzido pelo ex-marido, Jack White), Karen Elson canta contos de amor com final trágico, histórias mal-assombradas, desilusões e traições românticas, e vários crimes de paixão testemunhado apenas pela lua cheia. Suas músicas possuem uma atmosfera bastante sombria, e ao mesmo tempo, sedutora e convidativa.
 Algumas músicas: 

 
 
 
 
O que acharam da cantora? Bjs

August 30, 2012

Libera Me


"Deixe que eu seja aquele demônio, pensei. 
Liberte-me deste desejo vulgar e desta fraqueza. 
Leve-me de volta para as trevas, 
que é o meu lugar."

- "Crônicas Vampirescas", Anne Rice

Imagem de vampire, victoria frances, and gothic


"Crônicas Vampirescas" é uma série incrível de Anne Rice..
A citação acima é do livro "A História do Ladrão de Corpos".
Histórias de vampiros são sempre fascinantes!
Uma ótima semana a todos ^^"




August 19, 2012

Meu Sonho - Álvares de Azevedo

Meu Sonho

Eu,
Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sangüenta na mão?
Por que brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?

Cavaleiro, quem és? o remorso?
Do corcel te debruças no dorso.
E galopas do vale através.
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?

Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?.
Tu escutas. Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?

Cavaleiro, quem és? – que mistério,
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?

O Fantasma
Sou o sonho da tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!

Álvares de Azevedo

Godspeed Fair Knight, by Edmund Blair Leighton:
Godspeed Fair Knight, por Edmund Blair Leighton

July 31, 2012

Inspiração: Natalie Shau

  Hoje farei um post sobre uma artista que julgo incrível, cujas ilustrações descobri há tempos atrás no DeviantArt: Natalie Shau.
  Ela é uma designer gráfica lituana que agora trabalha e vive na Grécia; em suas obras, combina fotografia, tecnologia digital e modelagem 3D, criando obras lindas e surreais, mas com um toque gótico e sombrio. Seus desenhos fazem referência a contos de fada da literatura russa, à religião, e a sentimentos humanos (como amor, ódio, medo, etc).
É impossível não ficar impressionado (a) com as ilustrações dela, são muito criativas e ricas em detalhes.





Espero que tenham gostado da artista.^^" Bjs

July 21, 2012

Esperança

 A Esperança é como um pássaro.
Ela pousa mesmo nos corações mais frios, e aquece-os com seu suave canto.
Um canto que jamais silencia-se...

A sublime voz da Esperança pode ser ouvida mesmo na pior tempestade, 
e é sempre o último sentimento a morrer no abismo dos corações humanos.
A Esperança os mantém aquecidos.

Já a ouvi nas terras mais geladas, e nos mares mais estranhos; 
ela sempre esteve lá, sendo a motivação que fazia-me continuar
 minha jornada neste mundo sombrio, mesmo no desespero e na aflição...
Pois ela era como uma réstia de luz, 
a iluminar meu caminho em meio à escuridão.

by Vane



July 15, 2012

Reconciliação - Johann Wolfgang von Goethe

Reconciliação

A paixão traz a dor! — Quem é que acalma
Coração em angústia que sofreu perda tal?
As horas fugidias — para onde é que voaram?
O que há de mais belo em vão te coube em sorte!
Turbado está o espírito, o agir emaranhado;
O mundo sublime — como foge aos sentidos!

Mas eis, com asas de anjo, surge a música,
Entrelaça aos milhões os sons aos sons
Pra varar, lado a lado, a alma humana
E de todo a afogar em eterna beleza:
Marejado o olhar, na mais alta saudade
Sente o preço divino dos sons e o das lágrimas.

E assim aliviado, nota em breve o coração
Que vive ainda e pulsa e quer pulsar,
Pra ofertar-se de vontade própria e livre
De pura gratidão pela dádiva magnânima.
Sentiu-se então — oh! pudesse durar sempre! —
A ventura dobrada da música e do amor.

Goethe


July 4, 2012

Saudades...

Saudades

Sinto sua falta.
Sinto falta de seus braços calorosos que me tomavam,
de seus sorrisos contagiantes,
das doces palavras que sussurrava em meu ouvido,
de seus olhos que quando me fitavam, eram capazes
de enxergar bem no fundo da minha alma...

Sinto falta dos momentos felizes que passamos juntos,
conversando sobre tudo, deitados sob as estrelas...
junto a ti, eu sabia que existia uma parte de mim,
porque me sentia completa quando você me tomava em seus braços.

Mas por que você teve que partir agora?
Quando se foi, levou consigo uma parte de mim...
Eu lhe suplico que volte, porque sinto sua falta...
Todas as nossas lembranças são revividas em meu coração, dia após dia...
Há uma parte dele que está vazia, uma parte que antes você preenchia.
É um lugar que existe em mim no qual você sempre pertencerá...

by Vane

Imagem de girl, rain, and sad

Pessoal! Respondi os antigos comentários e a partir de agora responderei todos!
Abraços...

June 19, 2012

A Paixão da sua Vida - Marina Colasanti


A Paixão da sua Vida

Amava a morte
Mas não era correspondido.
Tomou veneno,
Atirou-se de pontes,
Aspirou gás.
Ela sempre o rejeitava,
Recusando-lhe o abraço.

Quando finalmente desistiu da paixão
Entregando-se à vida,
A morte, enciumada
Estourou-lhe o peito.

Marina Colasanti





June 12, 2012

Amor

 O Amor é um estranho sentimento que vaga pelo mundo...
 Traçando o destino de alguns, enlouquecendo outros, inspirando os músicos e os poetas... E sempre fazendo novas vítimas; os que caem em suas armadilhas acabam vivendo eternamente na tortura de amar.
 O Amor é uma animal selvagem, que devora os corações humanos,...
 Não há como escapar, pois o Amor faz de todos suas presas; quando as encontra, ele as dilacera, as consome por inteiro. Em alguns, ele deixa marcas que permanecem para sempre. E é impossível fugir do Amor, pois todos os caminhos que percorremos acabam nos levando a ele.
 O Amor é um destino já traçado...
 Porém, às vezes o Amor morre dentro do interior de alguns corações que outrora habitava, e então estes se tornam vazios, escurecidos... Infeliz é o homem que deixou de amar! Apesar do Amor ter suas armadilhas e espinhos, ele é tão belo, e tão grandioso, que por ele, a Terra continua a girar continuamente em sua órbita....
  A existência do Amor é o motivo pelo qual eu ainda tenho fé. Apesar de ele não estar dominando o mundo no momento, espero que um dia ele se espalhe como fogo e suas chamas incendeiem todo o Universo.

by Vane

June 5, 2012

Ismália - Alphonsus de Guimaraens

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...

E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar...

Alphonsus de Guimaraens


June 2, 2012

Música: Sellyy

 Falarei nesse post sobre uma cantora cujas músicas são muito boas, mas infelizmente ainda não é muito conhecida no Brasil: Sellyy.


 Selly é uma cantora austríaca (suas músicas são cantadas em alemão); fez sua estréia no mundo da música com o álbum Lethargie (no ano passado) e o gênero que ela canta é Electro Gothic.
 Conheci a Selly através de um comentário num site comparando-a à Kerli Kõiv (em sua fase 'gótica') e então fui logo conferir o som dela, e gostei muito! As músicas são bastante sombrias, com melodias e letras bem marcantes. Realmente, sua voz parece uma mistura de Kerli+Natalia Kills+Amy Lee, rs
  Vou endicar algumas músicas:

  


 
O que acharam da cantora?
Bjs

May 29, 2012

I had a dream...

 Na noite passada, eu tive um sonho que pareceu tão real.
 Em meu sonho, o Sol havia se apagado; e assim as Trevas consumiram todo o mundo, o tomando e possuindo por completo com sua escuridão. Nas profundezas da noite eterna, restaram apenas as estrelas, brilhando sombrias em seus halos. Talvez elas ainda estavam lá para conceder aos homens a esperança que um dia a Luz retornaria ao mundo.
 Mas era tarde demais; a noite já vencera o dia, nada mais restava. E este vazio possuiu os corações dos homens, e assim eles se tornaram parte da noite, pertencendo eternamente à ela.
 E foi assim que me tornei a Escuridão.
 Eu ainda dormia sob as estrelas, na esperança que suas réstias de Luz penetrassem em meu coração sombrio. E assim se foi, dia após dia, e com todas as minhas esperanças e meus sonhos já mortos em meu interior, eu me entreguei completamente à Escuridão, deixando-a envolver-me com seus braços enegrecidos, como se sempre houvesse pertencido à ela.
 No grande abismo que se tornara o mundo, a Escuridão em pouco tempo consumira também a Vida, e a Morte triunfava em sua silenciosa vitória sobre os restos do que outrora habitava o mundo.
 Bom, tudo fora apenas um sonho.  

by Vane 
 

May 25, 2012

Inspiração: Victoria Francés

 Hoje farei um post sobre uma das minhas ilustradoras favoritas, cujas obras me inspiram muito: Victoria Francés.
 Ela uma pintora e ilustradora espanhola, licenciada em Belas Artes na faculdade de San Carlos de Valencia. As suas ilustrações e desenhos representam assim um mundo onírico do romantismo gótico; apresenta temáticas que nos levam a um mundo simbologista, mágico e ancestral.
 Todo o sofrimento dos seres proscritos deste mundo é retratado em forma de castelos obscuros e mansões de luzes tremeluzentes, onde se reconhece a influência de Goethe, Edgar Allan Poe, Baudelaire e até Bram Stoker.
 Quem gosta de desenhos góticos vai se apaixonar pelos que a Victoria Francés faz, são lindos, alguns são bem tristes e/ou dramáticos, mas é impossível não se encantar pela arte dela, ainda mais quem ama desenhar, como eu, os desenhos dela são muito inspiradores ;)



Espero que tenham gostado :) Bjs

May 20, 2012

The Ghost Story

The Ghost Story
 
Era uma noite fria de inverno
Em que a escuridão tomava aquelas ruínas
E a lua aparecia pálida no céu
Iluminando meu caminho sombrio...

Eu era um fantasma
Que vagava nas sombras da noite
Remoendo as lembranças
De uma vida tão curta
Em que amei e vivi
Intensamente
Mas agora, meu corpo
Sem vida jazia no solo
E eu, sem rumo vagava
E escutava o vento,
Soprando entre as árvores,
Sussurrando suas tristes canções
E a fria garoa
Que enquanto caía
Contava histórias...
 
As sombras da noite
E as lembranças guardadas
No baú da minha Memória
Eram tudo que tinha, e nada mais
Então o grande relógio da torre
Marcou meia-noite
Era a hora de partir
Para um lugar bem distante dali
Longe daquelas árvores escurecidas
E daquele lugar sem vida
Cheio de ruínas
De lembranças passadas
E há muito tempo esquecidas...

Daquele dia em diante
Eu, por muitas vezes
Vaguei pelas sombras da noite
Lamentando minha vil existência
Longe de tudo que outrora já amei...
Me entreguei novamente à escuridão
Buscando nela consolo
E eternamente vivendo em suas entranhas,
Apenas na companhia
De minhas memórias
Que há muito vem assombrar-me
Noite após noite
Preenchendo o vazio que
Há em mim
Por toda a Eternidade.

by Vane


May 17, 2012

Imaginário

Poema dedicado ao meu anjo da guarda, que sempre está comigo a me proteger e iluminar <3


Imaginário
 
Meu anjo
Não me deixe afundar
Nas sombras
Onde estão aprisionados
Os meus medos…
Me resgate
E com suas asas prateadas
Me leve para muito longe.

Para um lugar
Onde a luz da lua
Dorme sobre a relva
E o vento passeia
Entre as rosas brancas...
Um lugar
Para onde podemos fugir
Antes do amanhecer

Meu anjo,
Apenas me leve com você
Para um lugar
Onde podemos viver em paz
Para sempre
Longe de todo o mal
Que assombra este mundo...

Meu anjo…
Eu estarei te esperando. 

by Vane

Frederic Leighton, Elijah in the Wilderness (detail) 1877-78:
Elijah in the Wilderness (detalhe), por Frederic Leighton

May 14, 2012

In my darkest dreams

In my darkest dreams

Em meus sonhos mais sombrios
Eu te encontrei
Você era tudo pra mim
Você transformava em luz
As sombras que habitavam
Dentro de mim
Mas você não era real
Uma doce ilusão
Um sonho perturbador
Mas era tudo pra mim
 
Para onde você partiu agora?
Uma troca injusta
Com o mundo real
E eu não posso te fazer real
Então eu desejo apenas
Que você venha até mim
E me leve embora em seus braços…

Enquanto os anos passam
Diante de mim
Cresce o buraco em meu coração
A falta que você me faz
Então, novamente, eu me deito
E te encontro em meus
Sonhos mais sombrios
Mas, se só posso ter você
Nos meus sonhos
Dormirei para sempre
Até que você me desperte
E me traga
De volta à vida.

by Vane


May 13, 2012

O Corvo - Edgar Allan Poe

 Hoje publicarei aqui um poema que eu gosto muito: "O Corvo" de Edgar Allan Poe; acredito que seja o poema mais conhecido dele. A tradução é de Machado de Assis.


O Corvo

Em certo dia, à hora, à hora
Da meia-noite que apavora,
Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta,
Ia pensando, quando ouvi à porta
Do meu quarto um soar devagarinho,
E disse estas palavras tais:
"É alguém que me bate à porta de mansinho;
Há de ser isso e nada mais."

Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o chão refletia
A sua última agonia.
Eu, ansioso pelo sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora.
E que ninguém chamará mais.

E o rumor triste, vago, brando
Das cortinas ia acordando
Dentro em meu coração um rumor não sabido,
Nunca por ele padecido.
Enfim, por aplacá-lo aqui no peito,
Levantei-me de pronto, e: "Com efeito,
(Disse) é visita amiga e retardada
Que bate a estas horas tais.
É visita que pede à minha porta entrada:
Há de ser isso e nada mais."

Minh'alma então sentiu-se forte;
Não mais vacilo e desta sorte
Falo: "Imploro de vós, — ou senhor ou senhora,
Me desculpeis tanta demora.
Mas como eu, precisando de descanso,
Já cochilava, e tão de manso e manso
Batestes, não fui logo, prestemente,
Certificar-me que aí estais."
Disse; a porta escancaro, acho a noite somente,
Somente a noite, e nada mais.

Com longo olhar escruto a sombra,
Que me amedronta, que me assombra,
E sonho o que nenhum mortal há já sonhado,
Mas o silêncio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta;
Só tu, palavra única e dileta,
Lenora, tu, como um suspiro escasso,
Da minha triste boca sais;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
Foi isso apenas, nada mais.

Entro coa alma incendiada.
Logo depois outra pancada
Soa um pouco mais forte; eu, voltando-me a ela:
"Seguramente, há na janela
Alguma cousa que sussurra. Abramos,
Eia, fora o temor, eia, vejamos
A explicação do caso misterioso
Dessas duas pancadas tais.
Devolvamos a paz ao coração medroso,
Obra do vento e nada mais."

Abro a janela, e de repente,
Vejo tumultuosamente
Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias.
Não despendeu em cortesias
Um minuto, um instante. Tinha o aspecto
De um lord ou de uma lady. E pronto e reto,
Movendo no ar as suas negras alas,
Acima voa dos portais,
Trepa, no alto da porta, em um busto de Palas;
Trepado fica, e nada mais.

Diante da ave feia e escura,
Naquela rígida postura,
Com o gesto severo, — o triste pensamento
Sorriu-me ali por um momento,
E eu disse: "O tu que das noturnas plagas
Vens, embora a cabeça nua tragas,
Sem topete, não és ave medrosa,
Dize os teus nomes senhoriais;
Como te chamas tu na grande noite umbrosa?"
E o corvo disse: "Nunca mais".

Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome: "Nunca mais".

No entanto, o corvo solitário
Não teve outro vocabulário,
Como se essa palavra escassa que ali disse
Toda a sua alma resumisse.
Nenhuma outra proferiu, nenhuma,
Não chegou a mexer uma só pluma,
Até que eu murmurei: "Perdi outrora
Tantos amigos tão leais!
Perderei também este em regressando a aurora."
E o corvo disse: "Nunca mais!"

Estremeço. A resposta ouvida
É tão exata! é tão cabida!
"Certamente, digo eu, essa é toda a ciência
Que ele trouxe da convivência
De algum mestre infeliz e acabrunhado
Que o implacável destino há castigado
Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga,
Que dos seus cantos usuais
Só lhe ficou, na amarga e última cantiga,
Esse estribilho: "Nunca mais".

Segunda vez, nesse momento,
Sorriu-me o triste pensamento;
Vou sentar-me defronte ao corvo magro e rudo;
E mergulhando no veludo
Da poltrona que eu mesmo ali trouxera
Achar procuro a lúgubre quimera,
A alma, o sentido, o pávido segredo
Daquelas sílabas fatais,
Entender o que quis dizer a ave do medo
Grasnando a frase: "Nunca mais".

Assim posto, devaneando,
Meditando, conjeturando,
Não lhe falava mais; mas, se lhe não falava,
Sentia o olhar que me abrasava.
Conjeturando fui, tranqüilo a gosto,
Com a cabeça no macio encosto
Onde os raios da lâmpada caíam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam,
E agora não se esparzem mais.

Supus então que o ar, mais denso,
Todo se enchia de um incenso,
Obra de serafins que, pelo chão roçando
Do quarto, estavam meneando
Um ligeiro turíbulo invisível;
E eu exclamei então: "Um Deus sensível
Manda repouso à dor que te devora
Destas saudades imortais.
Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora."
E o corvo disse: "Nunca mais".

“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Dize-me: existe acaso um bálsamo no mundo?"
E o corvo disse: "Nunca mais".

“Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta, atende, escuta, atende!
Por esse céu que além se estende,
Pelo Deus que ambos adoramos, fala,
Dize a esta alma se é dado inda escutá-la
No éden celeste a virgem que ela chora
Nestes retiros sepulcrais,
Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!”
E o corvo disse: "Nunca mais."

“Ave ou demônio que negrejas!
Profeta, ou o que quer que sejas!
Cessa, ai, cessa! clamei, levantando-me, cessa!
Regressa ao temporal, regressa
À tua noite, deixa-me comigo.
Vai-te, não fique no meu casto abrigo
Pluma que lembre essa mentira tua.
Tira-me ao peito essas fatais
Garras que abrindo vão a minha dor já crua."
E o corvo disse: "Nunca mais".

E o corvo aí fica; ei-lo trepado
No branco mármore lavrado
Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho.
Parece, ao ver-lhe o duro cenho,
Um demônio sonhando. A luz caída
Do lampião sobre a ave aborrecida
No chão espraia a triste sombra; e, fora
Daquelas linhas funerais
Que flutuam no chão, a minha alma que chora
Não sai mais, nunca, nunca mais!


Edgar Allan Poe

Sueño, de El cuervo de Allan Poe, publicación de 1884 (póstuma, después de la muerte de Dore):
Ilustração para a obra The Raven de Poe, por Gustave Doré