February 28, 2015

Vampire Heart - Capítulo III

VAMPIRE HEART
Capítulo I | Capítulo II | Capítulo III


    - Estava em seu aguardo, Vincent – disse-me ela, estendendo em minha direção um cálice que continha um líquido vermelho escuro.

   Tentei recuar, mas algo que nela havia fez-me aceitar o que me oferecia.. Seus olhos me enfeitiçavam. 


   Bebi um gole daquela substância. Ela continuou:

   - Sim, seu pesadelo fora real! Bem-vindo ao meu reino, ao qual você há de adentrar agora.

   Naquele instante, não consegui me mover: meus movimentos estavam paralisados. Ela aproximou-se, fitando-me profundamente; e como um animal selvagem, ela então me atacou, dilacerando-me ainda mais de como fizera antes. Senti uma agonizante dor, e logo em seguida uma onda de calor percorreu meu corpo. Era seu sangue, sua essência da qual eu havia provado e ora jorrava também em mim. 


   Em seguida, uma estarrecedora sede invadiu-me; sem pensar, apoderei-me do corpo de Élise, com o cálido ardor de um amante; e então comecei a sugar seu sangue.


   Meus sentidos se confundiram completamente.. Uma agonia vital e estranha veio a mim. Uma vez que minha sede estava saciada, tudo à minha volta volveu-se em trevas. O que viera a seguir era foi a Morte, a consumir-me, porém, sem findar minha essência: ainda não era o fim.


   Após de tal forma morrer, acordei no interior de uma cripta oculta no interior daquela gélida montanha. Mesmo estando morto, uma centelha de vida corria por minhas veias! 


   - O que, afinal, tornei-me? – indaguei.


   Posteriormente, Élise veio a esclarecer minhas aterradoras dúvidas, e finalmente compreendi minha nova essência. Ela não me explicara com clareza os motivos pelos quais havia arrebatado minha vida humana, para depois conceder-me tal existência eterna, mas depois compreendi que ela vinha observando-me há tempos, fascinada por minha natureza consciente e indagadora – eu era como uma alma viva entre uma multidão de almas mortas, - segundo ela, - e por tal razão, assim eu devia permanecer para todo o sempre: vivo! 


   Dessa forma, com seu auxílio, através das primeiras décadas de minha imortalidade pude compreender mais profundamente a natureza humana: todas as suas virtudes, bem como seus vícios. Algumas coisas deixavam-me perplexo, e outras, por um breve período, me fascinaram em sua plenitude.

   Minha observação concentrou-se, sobretudo, em torno das raízes do mal -  veneno impregnado desde os primórdios em todo espírito humano, o qual, desde então, eu vinha buscando compreender. 

   Em dado momento, quando adquiri finalmente consciência de minha própria natureza, horrorizei-me; então meu ódio voltou-se contra minha criadora, Élise. Cego por tal ódio mortal, eu abandonei-a; desde então, tenho vivido só através das décadas que vieram a seguir, apenas em companhia de meus taciturnos pensamentos e memórias.




   Ora contemplo meu relato, absorto em meio às mais amargas reflexões; como havia contado previamente, através do tempo observei mais profundamente a Humanidade e adquiri uma grande aversão à mesma. Mas, por ironia do destino, meu ódio voltou-se para mim mesmo com maior intensidade. Sim! Quando afinal dei-me conta plenamente de minha monstruosidade, horrorizei-me para com minha própria vil natureza.


   Uma vez terminado de relatar-lhe minhas memórias, eu as confinarei a um lugar onde espero que minha cara Élise encontrará.. 

   E assim compreenda os motivos pelos quais decidi findar a centelha de vida que faz-me permanecer vivo.

   Agora que estou a terminar minha história, caro leitor, pretendo ir ao encontro da Morte - e desta vez, a Morte definitiva, que concede-nos o sono eterno - , cravando uma adaga em meu próprio coração, pois o mesmo ora é vazio, e incapaz de sentir qualquer coisa, senão repulsa por mim mesmo. 

   Aqui deixo minhas memórias, escritas com sangue, elixir da vida de uma vil criatura que teme sua própria existência.


FIM
by Vane



 E assim eu termino o meu primeiro conto! 
 Talvez ele tenha deixado um pouco a desejar por eu não ter muita experiência em escrever contos..  Mas de qualquer forma assim eu vou melhorando minha escrita aos poucos, conforme eu disse no post do capítulo I.
 p.s.: Links para os capítulos anteriores: aqui e aqui.

 Agradeço aos que acompanharam :)
 Abraços

February 26, 2015

La Ballade of Lady and Bird



"A infância não vai do nascimento até certa idade, 
e a certa altura a criança está crescida, 
deixando de lado as coisas de criança. 
A infância é o reino onde ninguém morre."

- Edna Sr. Vincente Millay




"BIRD: LADY?...

Lady: Sim, Bird?
Bird: Está frio...
Lady: Eu sei.
Lady: Bird... Eu não consigo ver nada.
Bird: Está tudo em sua cabeça.
Lady: Estou preocupada...
Bird: Ninguém virá nos ver?
Lady: Talvez eles venham mas nós simplesmente não conseguiremos vê-los. O que você vê?
Bird: Eu vejo o que está lá fora.
Lady: E o que exatamente está lá fora?
Bird: São os crescidos.
Lady: Bom, talvez se nós gritarmos eles possam nos ouvir...
Bird: Sim, talvez devêssemos tentar gritar!
Lady: Ok, Bird!
Lady e Bird: Socooooorro, Socooooorro! Conseguem nos ouvir? Alô! Socorro! Olá sou eu! Hey! Você pode ver? Você pode me ver? Eu estou aqui... Nana venha e nos pegue! Olá! Você está ai? Alô?
Lady: Eu não acho que eles podem nos ouvir...
Bird: Eu posso te ouvir, Lady... Você quer vir comigo?
Lady: Você será legal comigo, Bird.
Lady: Você é sempre legal comigo porque você é meu amigo.
Bird: Eu tento, mas as vezes cometo erros.
Lady: Nana disse que todos nós cometemos erros...
Bird: Talvez nós devêssemos gritar mais.
Lady: Sim, Bird, vamos gritar mais!
Lady e Bird: Socorro! Nos ajude! Por favor! Socorro... Socorro! Socorro! Olá! Nós estamos perdidos...
Lady: Eu não acho que eles consigam nos ver.
Bird: Ninguém gosta de nós...
Lady: Mas todos eles parecem tão grandes!
Bird: Talvez nós só devêssemos pular.
Lady: Mas se nós cairmos além da ponte então ninguém poderá nos pegar.
Bird: Eu não sei, vamos apenas ver o que acontece.
Lady: Okay!
Bird: Venha comigo!
Lady: Devemos ir juntos.
Bird: Sim!
Lady e Bird: 1, 2, 3,... Aaaaaaaah!
Bird: Lady?
Lady: Sim, Bird?
Bird: Está frio...
Lady: Eu sei.
Lady: Bird... eu não consigo ver nada.
Bird: Está tudo em sua cabeça..."



Lady & Bird - La Ballade of Lady and Bird ♫ ♪



February 19, 2015

Vampire Heart - Capítulo II

VAMPIRE HEART
Capítulo I | Capítulo II | Capítulo III


The Velvet Cartel // Austin, TX www.velvetcartel.com
   Devo continuar o relato de como tornei-me a criatura que hoje sou.

   Como o leitor deve recordar-se, eu havia despertado subitamente sob um chão completamente ensanguentado; ao levantar-me cambaleando, percebi que estava dentro da grande catedral de Barcelona. A mesma havia adquirido um aspecto taciturno e sombrio, de tal forma que eu nunca vira antes. Havia pouquíssima luz, e apenas o que eu enxergava com clareza era o sangue, que jorrava abundantemente de um grande crucifixo que se encontrava à minha frente. As imagens dos santos choravam sangue, e todo o local se encobria lentamente de vermelho vivo. 

   Eu fraquejava de dor.. logo percebi que esta vinha duas marcas profundas em meu pescoço. Apesar de uma parte de mim acreditar que tudo aquilo era fruto de minha imaginação, encontrava-me em um estado de pânico, de modo que corri desesperadamente dali, e o portal da catedral então fechara-se em um fortíssimo estrondo.

   Uma vez aparentemente liberto de meu terrível devaneio, e encontrando-me do lado de fora daquele local escurecido onde estivera, percebi que acabara de amanhecer e os primeiros raios de sol despontavam no horizonte. Tal luz parecia cegar-me , então refugiei-me em um local onde haviam sombras. Recordando o vil pesadelo da noite passada, senti-me aliviado por aquilo ter acabado.



   Mas tive um grande calafrio ao sentir dor e dar-me conta de que as marcas em meu pescoço ainda estavam lá! Ele havia sido dilacerado, e eu sentia uma grande sensação de fraqueza e cansaço. Certamente eu perdera muito sangue.. assombrei-me com a possibilidade de os    Retornando ao local de meus pesadelos, constatei que lá estava tudo perfeitamente normal: o interior da catedral estava amplamente iluminado , sem resquícios de sangue no chão, e não havia quaisquer elemento que indiciava e veracidade do que havia se passado comigo na noite anterior. Algumas pessoas entraram no local, e fitavam-me com uma dose de desconfiança e estranhamento estampados em seus olhares. Logo apressei-me em sair de lá.. e não havia dúvida para mim, naquele momento, a loucura, vagarosamente, estava começando a entorpecer-me.

   Passaram-se muitos dias deste os fatos que acabo de lhes relatar, e desde então, em algumas fatídicas noites, eu a vi em meus sonhos – a sombria dama que levara consigo minha sanidade, julgara eu.
   Em tais visões, ela havia me dito que chamava-se Élise, e que eu deveria encontrá-la na encosta de uma certa montanha localizada na longínqua província de Vizcaya, no norte da Espanha, a fim de revelar-me um vil segredo.
Tomado por uma súbita coragem tomei a decisão de encontrá-la, decidido a desvendar, afinal, os acontecimentos sobrenaturais que haviam acontecido naquela noite. Embora estivesse - em partes - descrente que tais fatos possuíam algum vínculo com a realidade, desejava saber como haviam ocorrido, e por quais razões.

   O Inverno havia chegado de forma rigorosa, e as ruas estavam torrencialmente cobertas de neve.
   Dois dias depois dos acontecimentos previamente relatados, decidi-me a encontrar Élise - se é que ela de fato existia.
   Conforme a decisão tomada, viajei em direção ao local combinado.
   Ao chegar na encosta da montanha, havia bastante neve, e deparei-me com um rastro de sangue no chão que impulsivamente comecei a seguir, até que cheguei a um lugar um tanto oculto por uma grande camada de neve, e que parecia-se com uma caverna. Lá estava bastante escuro, mas resolvi arriscar: adentrei o local.

   Enxerguei dois olhos que sombriamente fitavam-me na escuridão; a entidade sobrenatural estava à minha espera..


by Vane