Hoje postarei aqui o poema "Trevas" de Lord Byron, um de meus favoritos deste ilustre autor. A tradução é de Castro Alves.
TREVAS
Tive um sonho que em tudo não foi sonho!...
O sol brilhante se apagava: e os astros,
Do eterno espaço na penumbra escura,
Sem raios, e sem trilhos, vagueavam.
A terra fria balouçava cega
E tétrica no espaço ermo de lua.
A manhã ia, vinha... e regressava...
Mas não trazia o dia! Os homens pasmos
Esqueciam no horror dessas ruínas
Suas paixões: E as almas conglobadas
Gelavam-se num grito de egoísmo
Que demandava "luz". Junto às fogueiras
Abrigavam-se... e os tronos e os palácios,
Os palácios dos reis, o albergue e a choça
Ardiam por fanais. Tinham nas chamas
As cidades morrido. Em torno às brasas
Dos seus lares os homens se grupavam,
P'ra à vez extrema se fitarem juntos.
Feliz de quem vivia junto às lavas
Dos vulcões sob a tocha alcantilada!
Hórrida esp'rança acalentava o mundo!
As florestas ardiam!... de hora em hora
Caindo se apagavam; creditando,
Lascado o tronco desabava em cinzas.
E tudo... tudo as trevas envolviam.
As frontes ao clarão da luz doente
Tinham do inferno o aspecto... quando às vezes
As faíscas das chamas borrifavam-nas.
Uns, de bruços no chão, tapando os olhos
Choravam. Sobre as mãos cruzadas — outros —
Firmando a barba, desvairados riam.
Outros correndo à toa procuravam
O ardente pasto p'ra funéreas piras.
Inquietos, no esgar do desvario,
Os olhos levantavam p'ra o céu torvo,
Vasto sudário do universo — espectro —
E após em terra se atirando em raivas,
Rangendo os dentes, blásfemos, uivavam!
Lúgubre grito os pássaros selvagens
Soltavam, revoando espavoridos
Num voo tonto co'as inúteis asas!
As feras 'stavam mansas e medrosas!
As víboras rojando s'enroscavam
Pelos membros dos homens, sibilantes,
Mas sem veneno... a fome Ihes matavam!
E a guerra, que um momento s'extinguira,
De novo se fartava. Só com sangue
Comprava-se o alimento, e após à parte
Cada um se sentava taciturno,
P'ra fartar-se nas trevas infinitas!
Já não havia amor!... O mundo inteiro
Era um só pensamento, e o pensamento
Era a morte sem glória e sem detença!
O estertor da fome apascentava-se
Nas entranhas... Ossada ou carne pútrida
Ressupino, insepulto era o cadáver.
Mordiam-se entre si os moribundos:
Mesmo os cães se atiravam sobre os donos,
Todos exceto um só... que defendia
O cadáver do seu, contra os ataques
Dos pássaros, das feras e dos homens,
Até que a fome os extinguisse, ou fossem
Os dentes frouxos saciar algures!
Ele mesmo alimento não buscava...
Mas, gemendo num uivo longo e triste,
Morreu lambendo a mão, que inanimada
Já não podia lhe pagar o afeto.
Faminta a multidão morrera aos poucos.
Escaparam dous homens tão-somente
De uma grande cidade. E se odiavam...
Foi junto dos lições quase apagados
De um altar, sobre o qual se amontoaram
Sacros objetos p'ra um profano uso,
Que encontraram-se os dous... e, as cinzas mornas
Reunindo nas mãos frias de espectros,
De seus sopros exaustos ao bafejo
Uma chama irrisória produziram!...
Ao clarão que tremia sobre as cinzas
Olharam-se e morreram dando um grito.
Mesmo da própria hediondez morreram,
Desconhecendo aquele em cuja fronte
Traçara a fome o nome de Duende!
O mundo fez-se um vácuo. A terra esplêndida,
Populosa tornou-se numa massa
Sem estações, sem árvores, sem erva.
Sem verdura, sem homens e sem vida,
Caos de morte, inanimada argila!
Calaram-se o Oceano, o rio, os lagos!
Nada turbava a solidão profunda!
Os navios no mar apodreciam
Sem marujos! os mastros desabando
Dormiam sobre o abismo, sem que ao menos
Uma vaga na queda alevantassem,
Tinham morrido as vagas! e jaziam
As marés no seu túmulo... antes dela
A lua que as guiava era já morta!
No estagnado céu murchara o vento;
Esvaíram-se as nuvens. E nas trevas
Era só trevas o universo inteiro.
Lord Byron
Não conhecia esse poema, é maravilhoso! (:
ReplyDeleteSim, é realmente um belíssimo poema, apesar da temática lúgubre.
DeleteObrigada pelo comentário :) Um abraço
Belíssima construção, Vane. Uma viagem apocalíptica, de rica imaginação e riqueza de detalhes surpreendentes. Não conhecia, lembrou enormemente nosso Augusto dos Anjos. Adoro vir aqui em sua elegante casa.
ReplyDeleteSim, esta é uma perfeita descrição para este magnífico poema!
DeleteE realmente lembra Augusto dos Anjos.
Digo o mesmo, caro Fábio: adoro visitar seu blog. Um abraço
Mas gente, que perfeição! Nunca li nada desse autor, não que eu me lembre. Me apaixonei.
ReplyDeleteUm sonho desse ia ser magnifico <3 kkkk
Beijos!
Realmente seria! rs Obrigada pela visita e comentário :)
DeleteUm abraço
Hermoso y Rotundo, pleno de imaginación y de sensanciones en contrastes.
ReplyDeleteMuy buen Poema...Me ha encantado, así como conocer y visitar Tu Mágico Espacio.
¡¡¡Gracias por tu Bello Comentario en mi Poesía y por seguir mi blog. Es una maravillosa sensación y experiencia estar en contacto con las Letras.
Abraços e Beijos.
Olá,
Deletedigo o mesmo, seu blog é encantador. Lhe agradeço igualmente, por seus comentários aqui e por estar seguindo meu blog :)
Abraços!
Lindo poema! Lindo blog, amei demais <3 tá mais do que perfeito. Obg pela visitinha ao meu blog, volte sempre (desculpa a demora pra retribuir a visita, é que voce nao deixou seu link no final do comentário :p)
ReplyDeletelittlebaddreamers.blogspot.com.br
Sou grata por sua agradável visita; irei segui-lo de volta.
ReplyDeleteAbraços
Fico feliz que tenha gostado.. seu blog também é muito bonito.
ReplyDeleteSeja bem-vinda, volte sempre :) Bjs
Simplesmente amo este poema!
ReplyDeleteEu também.. conheci Byron através dele! É realmente muito belo.
DeleteObrigada pelo comentário :) Um grande abraço