March 28, 2013

O Vampiro - Charles Baudelaire

O Vampiro

Tu que, como uma punhalada,
Entraste em meu coração triste;
Tu que, forte como manada
De demônios, louca surgiste,

Para no espírito humilhado 
Encontrar o leito e o ascendente;
- Infame a que eu estou atado 
Tal como o forçado à corrente, 

Como ao baralho o jogador, 
Como à garrafa o borrachão, 
Como os vermes a podridão, 
- Maldita sejas, como for! 

Implorei ao punhal veloz 
Que me concedesse a alforria, 
Disse após ao veneno atroz 
Que me amparasse a covardia. 

Ah! pobre! o veneno e o punhal 
Disseram-me de ar zombeteiro: 
"Ninguém te livrará afinal 
De teu maldito cativeiro. 

Ah! imbecil - de teu retiro 
Se te livrássemos um dia, 
Teu beijo ressuscitaria
O cadáver de teu vampiro!

Charles Baudelaire


Vampire I, por Edvard Munch

March 8, 2013

A Morte Absoluta - Manuel Bandeira

A Morte Absoluta

Morrer. 
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome. 

Manuel Bandeira


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 Esse texto me fez refletir... Depois de morrermos, será que nossa existência de outrora será esquecida, não passará de uma mera lembrança? Bem, acho que nada ou ninguém é realmente esquecido, acredito que todos deixamos marcas que nem mesmo o tempo pode corroer.

Um ótimo final de semana a todos! .. Bjs