June 20, 2016

A Bela Dama Sem Piedade - John Keats

Hoje posto aqui esta obra de John Keats, que sem dúvida é um de meus poemas favoritos! A tradução é de Izabella Drumond.


A Bela Dama Sem Piedade

Oh! O que pode estar perturbando você, Cavaleiro em armas,
Sozinho, pálido e vagarosamente passando?
As sebes tem secado às margens do lago,
E nenhum pássaro canta.

Oh! O que pode estar perturbando você, Cavaleiro em armas?
Sua face mostra sofrimento e dor.
A toca do esquilo está farta,
E a colheita está feita.

Eu vejo uma flor em sua fronte,
Úmida de angústia e de febril orvalho,
E em sua face uma rosa sem brilho e frescor
Rapidamente desvanescendo também.

Eu encontrei uma dama nos campos,
Tão linda... uma jovem fada,
Seu cabelo era longo e seus passos tão leves,
E selvagens eram seus olhos.

Eu fiz uma guirlanda para sua cabeça,
E braceletes também, e perfumes em volta;
Ela olhou para mim como se amasse,
E suspirou docemente.

Eu a coloquei sobre meu cavalo e segui,
E nada mais vi durante todo o dia,
Pelos caminhos ela me abraçou, e cantava
Uma canção de fadas.

Ela encontrou para mim raízes de doce alívio,
mel selvagem e orvalho da manhã,
E em uma estranha linguagem ela disse...
"Verdadeiramente eu te amo."

Ela me levou para sua caverna de fada,
E lá ela chorou e soluçou dolorosamente,
E lá eu fechei seus selvagens olhos
Com quatro beijos.

Ela ela cantou docemente para que eu dormisse
E lá eu sonhei...Ah! tão sofridamente!
O último dos sonhos que eu sempre sonhei
Nesta fria borda da colina.

Eu vi pálidos reis e também príncipes,
Pálidos guerreiros, de uma mortal palidez todos eles eram;
Eles gritaram..."A Bela Dama sem Piedade
Tem você escravizado!"

Eu vi seus lábios famintos e sombrios,
Abertos em horríveis avisos,
E eu acordei e me encontrei aqui,
Nesta fria borda da colina.

E este é o motivo pelo qual permaneço aqui
Sozinho e vagarosamente passando,
Descuidadamente através das sebes às margens do lago,
E nenhum pássaro canta.

John Keats


magnificentbaroque: “ The Beautiful Woman Without Mercy - John William Waterhouse (1849-1917) ”:
 The Beautiful Woman Without Mercy, por John William Waterhouse

June 12, 2016

Ofélia - Arthur Rimbaud

Ofélia

I.
Na onda calma e negra, entre os astros e os céus,
A branca Ofélia, como um grande lírio, passa;
Flutua lentamente e dorme em longos véus...
- Longe, no bosque, o caçador chamando a caça...

Mais de mil anos faz que a triste Ofélia abraça,
Fantasma branco, o rio negro em que perdura.
Mais de mil anos: toda noite ela repassa
À brisa a romança que em delírio murmura.

Beija-lhe o seio o vento e liberta em corola
Os grandes véus nas águas acalentadoras;
Sobre os seus ombros o salgueiro se desola,
Reclina-se o caniço à fronte sonhadora.

Nenúfares feridos suspiram por perto;
Às vezes ela acorda, em vidoeiro ocioso
Um ninho de onde vem tremor de um vôo incerto...
- De astros dourados desce um canto misterioso...

II.
Morreste sim, menina que um rio carrega,
Ó pálida Ofélia, tão bela como a neve!
- É que algum vento montanhês da Noruega
Contou que a liberdade é rude, mas é leve;

- É que um sopro, liberta a cabeleira presa,
Em teu espírito estranhos sons fez nascer
E em teu coração logo ouviste a Natureza
No queixume da árvore e do anoitecer.

- É que a voz do mar furioso, tumulto impávido,
Rasgou teu seio de menina, humano e doce;
- E em manhã de abril, certo cavalheiro pálido,
Um belo e pobre louco, aos teus pés ajoelhou-se.

E aí o céu, o amor: - que sonho, pobre louca!
Ante ele eras a neve, desmaiando à luz;
Visões estrangulavam-te a fala na boca,
O Infinito aterrava os teus olhos azuis!

III.
- E o Poeta diz que sob os raios das estrelas
Procuras toda noite as flores em delírio
E diz que viu na água, entre véus, a colhê-las
Vogar a branca Ofélia como um grande lírio.

Arthur Rimbaud


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Jean Simmons como Ofélia em Hamlet (1948)

Hoje trago aqui este belo poema do poeta inglês Arthur Rimbaud (1854-1891). A tradução é de Jorge Wanderley.
Uma boa semana a todos!